27.12.07
deuses e monstros
2007 não foi um ano qualquer. os deuses que o digam.
na índia, um sacerdote está reclamando na justiça a propriedade de um terreno, alegando ser herança do avô. o único problema é que o terreno abriga dois templos, onde são adorados dois deuses hindus, ram e hanuman. como a pendenga judicial já se arrasta há exatas duas décadas – a reclamação foi feita em 1987 –, este ano um juiz de um tribunal de pequenas causas resolveu dar um basta na situação e chamou para uma audiência as partes interessadas: o sacerdote e a dupla ram e hanuman. o juiz tomou as providências de praxe e enviou cartas a todos, mas, no caso dos deuses, as correspondências voltaram. motivo: "endereço incompleto". mais uma chance foi dada a ram e hanuman: um anúncio foi publicado em jornais de lá, chamando a poderosa dupla, que até agora ainda não se manifestou. como nada pode obstruir o trabalho da justiça, aguarda-se a nova atitude do juiz.
especulações sobre o caso:
1) o sacerdote vencerá a causa: se as cartas acusaram "endereço incompleto", é porque os deuses moram longe de seus templos e, por isso, perderão o direito sobre eles;
2) os deuses vencerão e o sacerdote será tomado por louco, pois tentará incendiar os templos, após inesperado surto de ateísmo – para muitos, um castigo merecido, pois onde já se viu um religioso processar deuses?;
3) o juiz de pequenas causas encontrará em breve algo mais produtivo para fazer, vai engavetar o processo e mandar o sacerdote parar de arranjar confusão com o povo lá de cima.
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há quem diga que deus é o grande terrorista da história e, nos estados unidos, um senador democrata do estado de nebraska concorda com isso. por isso, abriu um processo contra o próprio. de acordo com o senador, deus é responsável por mortes e destruições, pois provoca inundações, furacões e terríveis tornados.
especulações sobre o caso:
1) o processo não vai adiante, pois o tribunal será destruído, assim como todo o nebraska, que conhecerá uma série interminável de inundações, furacões e tornados;
2) caso o processo siga em frente, deus poderá mandar seu filho para representá-lo e, eventualmente, sofrer alguma condenação;
3) comprovada sua culpa, deus poderá, no máximo, ser condenado à prisão perpétua, já que no seu caso a pena de morte é um pouco difícil de ser aplicada – afinal, ele sempre pode ressuscitar após o terceiro dia.
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enquanto isso, no brasil, mais precisamente em aparecida, estado de são paulo, o prefeito decidiu acabar de uma vez com um problema que tanto maltrata a população da sua cidade: enviou à câmara municipal um projeto de lei para proibir enchentes. o prefeito se antecipou ao caos que certamente virá em fevereiro, mês tradicional das grandes chuvas de verão, que em 2006 deixaram centenas de desabrigados no vale do paraíba. mas nada é tão simples na política: o presidente da câmara prometeu jogar o projeto no lixo.
especulações sobre o caso:
1) o projeto será apoiado pela população, pois livra a cidade, por tabela, de vários outros flagelos, afinal, as enchentes são provocadas por chuvas fortes e cheias do rio paraíba do sul e afluentes;
2) a oposição vai barrar o projeto, pois, se aprovado, beneficiará tanto a cidade de aparecida que garantirá não só a reeleição do prefeito como estimulará sua disputa ao governo do estado e até à presidência da república;
3) o prefeito conseguirá aprovar o projeto e, no dia seguinte, aparecida praticamente desaparecerá – trocadilho infame, mas irresistível –, pois será coberta pela maior enchente de sua história, com exceção apenas da catedral da padroeira, que permanecerá intacta.
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as três histórias acima são reais. as especulações são exercícios de ficção, levemente inspirados em garcía márquez. porém, devo reconhecer que a disputa com o absurdo da realidade é, por vezes, desigual. seja a realidade do terceiro ou do primeiro mundo.
e que venha 2008...
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