31.1.09

Ordens


À mãe fumante, ordenou que jogasse fora os charutos e que fosse para o campo respirar um pouco de ar puro. À irmã anoréxica, impôs carne vermelha em todas as refeições - principalmente no café da manhã. Ao tio, que tentou suicídio na semana anterior, determinou que cantasse “Quero viver para sempre com você”, em alto e bom som, ao longo de todo o dia.

28.1.09

Uvas


Ela não comeria nunca aquelas uvas. Nunca. Poderiam estar envenenadas – uvas sempre podem estar envenenadas. E logo aquelas, tão roxas, tão bonitas. Não, não as comeria nunca. Mas não jogaria nenhuma no lixo. Isso, não. Imagine, lixo. A fruteira era o lugar para elas. Uvas tão roxas, tão bonitas.

25.1.09

Uma cidade


Quantas vezes você não quis ver, da sua janela, o mar? Quantas vezes você não lembrou do horizonte infinito atrás desse prédio à sua frente? Quantas vezes você não sonhou em partir? E quantas vezes não partiu para, em seguida, voltar para, em seguida, querer novamente partir e voltar? Eu não acredito que você não ache São Paulo uma cidade bonita.

17.1.09

Dois-zero-zero-nove


Dois mil e oito, além de nos presentear com a primeira grande crise econômica mundial do século 21, foi pródigo em datas importantes para o Brasil – comemoradas ou exorcizadas, dependendo do gosto do cliente: 200 anos da vinda da família real, 120 anos da assinatura da Lei Áurea, 100 anos da morte de Machado, 100 anos do nascimento de Rosa, 40 anos do AI-5 e 50 anos oficiais da bossa nova, só para citar algumas.

Dois mil e nove terá que dar duro para superar essas datas.