21.4.08

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embora todos já saibamos de tudo em detalhes , o apresentador do programa de tv anuncia a “reconstituição” do crime. anúncio feito, entram dois contra-regras: o primeiro traz uma réplica de janela de apartamento telada com um buraco devidamente feito na tela; o segundo carrega uma boneca de vestido vermelho. o da janela permanece no palco, segurando a réplica da janela com a tela furada; o outro entrega a boneca ao apresentador e sai de cena.

a “reconstituição” tem início. obviamente, a boneca representa a menina. a novidade é o apresentador, com máscara trágica, que assume os papéis dos dois acusados. inicialmente, ele “asfixia” a boneca; em seguida, incorpora o segundo personagem e atira o brinquedo pelo buraco da tela da janela. a boneca cai no chão do estúdio e, imediatamente é mostrada pela câmera, que nos diz que deveríamos ver ali a menina e imaginar seu estado após a queda do 6º andar. mas não temos muito tempo: a câmera logo retorna ao apresentador/ator que, já distanciado dos personagens, afirma ter sido muito difícil fazer a encenação. corta.

agora, o apresentador caminha pelo estúdio/palco. nenhuma “reconstituição” de crime será feita desta vez. é hora de celebrar a vida e anunciar algumas motos e um automóvel. a seu lado, duas assistentes mudas nos dizem com sorrisos que, para aplacar a velha tragédia da vida, nada como o sonho de um carro novo, devidamente embrulhado para presente com um grande laço vermelho.

a cor do laço é a mesma do vestido da boneca, a esta altura já recolhida ao depósito da emissora - possivelmente por pouco tempo: há grandes chances de que ela reapareça em frente às câmeras, caso a audiência ultrapasse a expectativa do horário.

4.4.08

cazuza, 50

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um brinde a cazuza, que faria 50 anos neste 4 de abril de 2008.

cazuza foi um dos grandes ídolos da geração que tinha seus 20 e poucos nos célebres anos 80. reuniu rock, blues, música brasileira, paixão, tristeza, humor, fossa e bossa. o poeta foi fundo no que escreveu, cantou, berrou, amou e sofreu. por isso permanece vivo.

estranho país musical este nosso que perde muito cedo gente fundamental para sua música. foi assim com ele, com renato russo, com chico science e com cássia eller – que gravou todos eles. só para citar exemplos recentes.

cazuza é daquele artista que dificulta qualquer lista de "músicas essenciais". como legião urbana, cássia eller ou dulce quental, todos ou quase todos os seus discos devem ser ouvidos por inteiro. talvez o póstumo "por aí", com sobras de um já conturbado "burguesia", seja o último da lista de cazuza, mas nunca dispensável.

alguns discos gravados em sua breve cena por aqui:

"cazuza", também batizado de "exagerado" por causa de sua canção-síntese que se tornou o sobrenome de seu autor. é o primeiro pós-barão vermelho e justifica a carreira solo, mesmo que a parceria com frejat permaneça - ainda bem, caso contrário "só as mães são felizes" não existiria. e há também "mal nenhum", "medieval II" e "balada de um vagabundo";

“só se for a 2”, o segundo disco solo, com as belas e apaixonadas “ritual”, “quarta-feira” e “solidão que nada”; e as furiosas “heavy love” e “lobo mau da ucrânia”. e há o poeta que dança a tristeza em “completamente blue”;

“ideologia”, onde um cazuza ainda mais ácido canta que viu a cara viva da morte em “boas novas”. além da faixa-título, obviamente, estão lá também as ótimas “a orelha de eurídice”, “vida fácil”, “obrigado (por ter se mandado), “blues da piedade” e "brasil", que ao lado de "que país é este", da legião, e "diário de um detento", dos racionais, é o tema contemporâneo e atemporal desta "grande pátria desimportante". mas todas as dores são confortadas com "faz parte do meu show".

“o tempo não pára”: disco ao vivo com a faixa-título e seu museu de grandes novidades. ainda tem “vida, louca vida”, de lobão e bernardo vilhena, que parece ter sido feita para cazuza;

“o poeta está vivo”, lançado em 2006 com o registro de show feito em 1987, no teatro ipanema, no rio, para divulgar “só se for a 2”. o título do disco (o mesmo da música de frejat e dulce quental feita anos depois em homenagem a cazuza e gravada pelo barão de frejat) cabe neste cd póstumo, pois cazuza está em plena forma, gritando tudo o que pode. tem uma ótima versão para "ritual";

"burguesia", lançado como vinil duplo, registra o esforço do artista para se manter vivo e cantando. não é um grande disco como os anteriores e a voz potente de cazuza já está fraca, mas como não se render a "mulher sem razão", "manhatã", "quando eu estiver cantando" e "cobaias de deus" (parceria com angela rô rô)?

“maior abandonado”, terceiro do barão vermelho, marca a saída de cazuza, mas nos deixa a faixa-título, “milagres”, “dolorosa”, “não amo ninguém” e o mega-sucesso “bete balanço”;

“barão vermelho 2” tem “largado no mundo", "carente profissional", "vem comigo" e "pro dia nascer feliz". e, claro, "blues do iniciante";

"barão vermelho", compacto simples de 1984 (para quem tem menos de 30, era um single com duas faixas, só que uma em cada lado). no lado a, bete balanço; no b, uma das melhores músicas de toda a carreira do barão, a quase desconhecida "amor, amor";

e totalmente essencial:

“barão vermelho”, o primeiro disco do grupo, de 1982, com “por aí”, “posando de star”, “certo dia na cidade”, “down em mim”, “bilhetinho azul” e, pra poesia que a gente não vive, a versão original de “todo amor que houver nessa vida”.

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viva cazuza.