29.1.08
cores na chuva
dia de chuva em são paulo. um ponto de ônibus numa rua do centro. muitas cores em meio às gotas incessantes.
mas abriria mão dessas cores se pudesse colocar sobre elas um teto qualquer que abrigasse os donos dos guarda-chuvas - devidamente fechados - e também os sem guarda-chuvas, desavisados do humor oscilante do céu da metrópole.
porque é horrível pensar que a falta de cuidado com pessoas possa produzir uma imagem singela.
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foto: denio maués
21.1.08
o gato não matou o inseto
o gato não matou o inseto. apenas o fez entender, com breves patadas, que alguém mandava ali. depois, o gato subitamente parou. e viu o inseto tontear e logo recuperar-se; e viu o inseto afastar-se e caminhar para baixo do armário da cozinha; e o gato consentiu. e quando o inseto sumiu na escuridão do pequeno espaço entre o armário e o chão, o gato lançou-se, então, à sua procura, com olhos que enxergam no escuro e patas que vasculham o mundo. o inseto voltou à luz da cozinha com um safanão e o gato, mais uma vez, não o matou. e parou. e viu o inseto tontear e caminhar e sumir para sempre na escuridão do espaço entre o armário da pia e o chão. e o gato lançou-se, então, à procura inútil daquele ingrato que não ficou para brincar.
12.1.08
nazareth
espero que tu gostes de nazareth. de acordo com o dia, pode ser uma cidade bonita.
nazareth é banhada por este Grande Rio em que teu navio veio. a alguns passos daqui do porto fica o Grande Mercado, com peixes de sabores indefiníveis e ervas mágicas para finalidades diversas. por ser ao ar livre, porém, será melhor conhecê-lo amanhã cedo: janeiro é o mês das Grandes Chuvas e a de hoje não tardará.
deixaremos as malas em casa e visitaremos o lugar que escolheres: o Grande Theatro, o Grande Museu ou a Grande Catedral - de onde sai a Grande Procissão da santa que nomeia a cidade. é para ela que pedimos, todos os dias, que nos conceda a graça (e a fortuna) de novos seringais.
não há metrô, infelizmente, mas temos ótimos tílburis e bondes. o metrô nunca será possível em nazareth por causa da Grande Cobra, que dorme embaixo da cidade. não podemos despertá-la, jamais. até hoje fala-se do Grande Terremoto que houve, quando a Grande Cobra se mexeu durante o sono - eu tinha meses de nascido e o rosto assustado de minha mãe, nesse dia, é a lembrança mais antiga que me acompanha.
olha o céu como está negro! vamos que lá vem ela. tílburis ou bondes: o que tu preferes?
6.1.08
só pra dizer
hoje, ela não queria conversar: ligou só pra dizer “obrigado”. eu disse que, imagina, não precisava. ela disse que fui muito importante naquele momento. eu disse que faz parte da vida fazer o que fiz. ela disse que deu trabalho e eu disse que faria novamente. ela, mais uma vez, agradeceu. e eu disse "obrigado" pelo agradecimento. desligamos.
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